Vais morrer com a saia rota,
sem flores nos cabelos...
-Mas isso que importa
se depois de morta
até as mãos da terra
hão-de florescê-los ?
Vais morrer de blusa no fio,
sem laços nas tranças ...
-Mas isso que importa
se depois de morta
até as mãos do frio
penteiam as crianças ?
Vais morrer espantada na rua,
sem fitas nos caracóis ...
-Mas isso que importa
se depois de morta
até as mãos da lua
enfeitam os heróis ?
Vais morrer a cantar numa esquina,
de sapatos velhos ...
-Mas isso que importa
se depois de morta
continuarás a ser a menina
que nunca teve espelhos ?
Vais morrer com olhos de águia presa
e meias de algodão ...
-Mas isso que importa
se depois de morta
a tua beleza
não caberá num caixão.
E há-de rasgar a terra
e romper o chão
como uma primavera
de lágrimas acesa
que os homens atiram, em vão,
para a natureza ?
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