25 abril 2009

Férias!

Desde a passagem do ano que não voltei a ter um periodo de férias. Amanhã, domingo , pela manhã eu sigo para o sul. É o primeiro periodo desta "maratona" anual. Uma coisa "cansativa", mas que me agrada bastante. Muito !

É muito bom partir ... é excelente poder regressar! Colocar as coisas em ordem, porque brevemente tenho outro destino programado.

24 abril 2009

Dúvida.

E agora ?
Agora dêem-me uma deusa passageira,
mais nuvem do que mulher,
com sandálias de oiro,
lírios nos olhos
e a boca a rir por fora.
Com todas as lágrimas que quiser ...
Uma nuvem de sonho,
agora,
nesta mesma hora.

23 abril 2009

Realidade.

Se eu tocasse no mundo
e tudo se transformasse na realidade hirta
dos outros,
riscos de gelo nos repuxos desenhados no ar,
sol fixo,
jardins com asas de vento parado nas flores,
incêndios adormecidos nos roseirais.
Mas não.
Só esta raiva de tudo ser a sombra dum momento,
um momento apenas
de pés tão leves
que quase não deixam na areia
sons de passos ou sinais.

22 abril 2009

Escondido.

E se houvesse uma deusa escondida
naquela nuvem que atravessa o céu
puxada por um dragão de prata ?
Se de repente saltasse para o azul
uma mulher longa
como uma melodia de violino
e começasse a atirar para a terra
rosas desfolhadas ?
Que pena o universo
não ser assim tão fácil
em vez desta complicação que ninguém entende,
sem rosas nem deuses !

Absurdo.

Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que eu tenho na cabeça ?
Eis a grande raiva !
Misturem-na com as rosas
... e chamem-lhe vida.

20 abril 2009

Ilusão.

Entra, realidade, entra
com pés de névoa
na minha combustão em desalinho ...
Entrem, árvores.
Entrem, pedras.
Entrem, fragas.
Entrem, sóis.
Entrem, entrem neste caminho de nuvens
onde tudo se transforma
em alma que começa ...
... para amanhã ter a ilusão
de que o mundo é um sonho sem forma
a sair-me da cabeça.

16 abril 2009

Água.

Ouço sempre
o mesmo violino de frio
em todas as tormentas
do meu coração,
quando as lágrimas queimam
num fogo de água.
É um frio de ternura
sereno e gelado
que me ensina a dor
de compreender.
Ternura que não arde,
mas gela o silêncio ...
E põe veias de frio
nas labaredas ...

15 abril 2009

Café.

Porque se calaram todos
quando entrei ao Café ?
Tenho algum cadáver colado à palidez ?
Ou as mãos ensanguentadas por crime imaginado
com os dedos nos pescoços escondidos nos bolsos ?
Porque se calaram todos
quando entrei no Café ?
Nasceu-me alguma estrela nos cabelos
gerada nos céus das ruas desertas ?
Porque se calaram todos
quando entrei no Café ?
Ah ! Já sei ! Já sei !
Trazia nos olhos talvez o reflexo
daquele pequeno segundo
que me gelou o coração
quando vi os homens abandonados no mundo,
sozinhos no universo,
gritando dentro da solidão.
Porque se calaram todos
quando entrei no Café ?
Vamos! Falem, conversem! Façam barulho!
Riam alto no soluço do burburinho.
Deixem-me pelo menos este orgulho
de sofrer, anónimo ou sozinho.

14 abril 2009

Fonte.

Senta-te aqui perto de mim
debaixo desta árvore de estrelas
e de luas ,
a ouvir ao longe a fonte do primeiro jardim
que veste de frio as minhas mãos nas tuas.
Onde cantas ,
fonte que só nós dois ouvimos ?
No aroma das plantas ?
Por dentro do luar ?
Nesta boca que um punhal de limos
rasgou na parede ?
Que importa !
É deixar cantar.
Gozemos nós a sede.

08 abril 2009

Planície.

Não tenhas receio e atira-te comigo da torre
do silêncio dos mais altos pesadelos.
Os poetas
são feitos de carne que não morre
e trazem asas secretas
atadas nos tornozelos.
Desce nesta minha nuvem de pólen lento
para a planície das flores cobiçadas
onde as pombas beijam os lábios ao vento,
as árvores enlaçam os ramos de mãos dadas.
Lá, num voo de roçar as flores com os pés,
iremos por sendas,
com estrelas nos olhos e nos véus,
até à planície mais longa que só tu vês
por dentro dos meus olhos a atravessarem os teus.
Depois ... depois o abismo da última solidão,
onde os poetas
tentam em vão
abrir aquelas asas secretas.

07 abril 2009

Noite.

Ouve , noite :
só nós os que não acreditamos no céu,
tivemos coragem de gritar
a esta "carcaça" a fingir de vida :
NÃO !
Nós, sem morte nem mundo,
por aqui a apodrecer
nas tumbas do sol secreto,
e a sonhar com um céu para os outros na terra
que só o ódio vê.
E é esta a nossa guerra.
E é esta a nossa fé.

06 abril 2009

Borboleta.

Borboleta verde,
não existe aromas,
aqui não há flores.
- Procuras nas pedras
jardins interiores ?
Borboleta verde,
aqui não há zumbidos.
- Procuras nas pedras
perfumes adormecidos ?
Borboleta verde,
aqui só há pedras e calçadas.
- Procuras nas pedras
as flores geladas ?
Borboleta verde,
chama quase morta.
- Também eu, também eu,
aos tombos nas pedras,
não encontro a porta.

01 abril 2009

Cabelos.

Quem anda pelas árvores
com mãos de vento
a arrancar as flores
para enfeitar os cabelos ?
Vá ! Responde tu
- quem quer que sejas -
bruxa ou sombra,
alma ou anjo,
ninfa
ou sopro de asa.
Responde:
« Sou eu. »
Estou farto
de viver num universo
em que ninguém rasga um véu!