30 janeiro 2012

Manhã






Manhã perfeita
 que nenhuma dor prolonga
 para além da suspeita
de chorarem apenas
as fontes sequiosas ...


Manhã em que tudo é superfície apenas,
superfície longa
nas pedras e nas rosas...


Manhã em que cismo:
dêem-me um abismo !






25 janeiro 2012

Sol






 Árvore seca
prendida do muro,
 um dia, quem sabe ?
 ...talvez o sol
 caia do céu
para ficar preso
pelos cabelos
num dos teus ramos...

Árvore sem fruto,
não desesperes.
 O nosso destino
 é um sol enforcado.





24 janeiro 2012

Manhã









 Que manhã esta !
ardente como o entusiasmo dos tambores.
 Onde tudo o que há de profundo nas raízes da floresta
se descobre nas flores.








19 janeiro 2012

Futuro






 E ainda hoje por lá ando a correr
na superfície das manhãs paradas
 a gastar-me como os mortos,
 e a deixar cair invenções de sombras nas estradas.


 Depois perdi as mãos
 de tanto escrever no musgo da parede
por baixo dum desenho obsceno inocente:

 « Futuro, deixa-me continuar a ter sede. »





12 janeiro 2012

Jardim





Meu jardim perdido de flores suspensas,
 meu longínquo jardim
 só de desvios altos,
 tão alheio às raízes de mãos pardas
 que procuravam na terra
 ouro para as flores...

Meu jardim perdido
onde todas as manhãs
rasgava o frio das pedras
 bocas à punhalada
 para as ouvir cantar
a alegria de me sentir fora de destinos
com ilhas de indiferença nos olhos.

Meu jardim distante
onde a liberdade
era saltar com algemas
na relva florida,
... enquanto as árvores,
mulheres disfarçadas de ramos
me esperavam nos caminhos
para me abraçarem, sôfregas,
numa entrega de flores ...

Meu jardim perdido ...
empedrado de desejos
onde em vez de sombra
trazia um sol de rastos.




06 janeiro 2012

Trevas






Em multidão
os homens parecem maiores do que são.

 Nela
a nossa voz,
tão rude quando cantamos sós,
parece mais bela.

 Num coro de cantar
 sai cá para fora
 tudo o que há  em nós de sol e treva  no luar.

 O resto ... os sonhos mesquinhos ...
 ficam para a solidão
dos caminhos.






02 janeiro 2012

Perfume






 Rosas.
Sacudir de gotas de orvalho ...

Passos iluminados de frio
 com pés de punhais
 e a sensação duma caminhada do fundo dos tempos
 até aos breves gumes
 das flores finais.

 Limites para a exactidão doce dos perfumes ...