11 julho 2011

Ânsia.

Atirei para o ar
a ânsia dum pássaro
que se pôs a cantar
na nuvem que passa.

Pobre nuvem
do desvio vão
- quem te concebeu ?

Talvez as lágrimas secretas
de todos os poetas
choram no alçapão
- a imaginar a nuvem
que as chore no céu...

Ah! e é tão bom chorar às escondidas lágrimas de rastos
e vê-las ao mesmo tempo subir nas bandeiras dos mastros!

08 julho 2011

Demagogia


 Demagogia de balões.

Riscos de fogo a substituírem nos olhos
outros desenhos de entusiasmo.

Febre de gritos de todas as cores menos uma,
a esquecerem futuro naquela filarmónica a tocar.

Cortejo de maltrapilhos
com bandeiras ausentes
nas ruas da aceitação do sol pisado.

Canções que escorregam na noite
como o suor do silêncio...

05 julho 2011

Escombros


Aqui tudo é permitido!

Principalmente humilhar as mulheres
 - rainhas do avesso
que os homens obrigam a subir nuas ao trono
à chicotada de olhos acesos.

E beber, beber, beber,
até ficarmos nos escombros do mundo
a respirar a teima da última luz da treva no poço...

E brandir nos braços
os archotes do desespero apagado.

E amolecer os nervos
em sensações de sono aos gritos.

E atirar para a noite
pensamentos nus como corpos de fêmeas.

E cuspir nos cadáveres de pureza enforcados na  lua.

E realizar pesadelos
com carne viva
uivante de alma morta.

E cair cansado de viver,
com a boca cerrada
a morder a recordação da caveira.

Sim. Aqui tudo é permitido.
Até chorar.

Vá , poeta, chora !
Chora em voz alta as tuas lágrimas de subterrâneo.

O SOLO DO VIOLINO JUSTIFICA TUDO.