25 maio 2008

D.Quixote Português.

Vi-o cair sozinho
ao pé do tapume
e não fui erguê-lo.

Continuei o meu caminho
com raivas de lume
nos olhos de gelo ...

Ah ! D.Quixote, D.Quixote
que trago no coração,
porque não me obrigaste, a chicote,
a levantá-lo do chão ?

Porque não me obrigaste, a pontapé,
a levá-lo nos meus braços
ao Hospital de S. José
-por pedras de rasgar passos ?

Porque tão assim te contentas
com o dever clandestino
destas lágrimas sangrentas
que já nem choro, imagino ?

D. Quixote, D. Quixote,
D. Quixote sem cavalo,
sem espada nem arnês,
fechado no meu coração:
porque não me obrigas-te a levá-lo
em vez, em vez
de estares para aí a chorá-lo
com lágrimas de sonho vão ?

D. Quixote português,
covarde de solidão.

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