Viver sempre também cansa.
O sol é sempre o mesmo, e o céu azul
ora é azul, muito nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada .
O mundo não se modifica.
As árvores dão as flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
Paisagens não se transformam,
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima homens são homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
Há bairros miseráveis, sempre os mesmos.
Discursos de políticos,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de, e em corrida ...
E obrigam-me a viver até à Morte !
Pois não seria mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo ?
Ah ! se pudesse suicidar-me por uns meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia :
«Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.»
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...