06 maio 2009

Sombra.

Tantas vezes a vi naquela mesa da noite
calada em si mesma
para não se acordar.
Nesse tempo,
já a poesia não lhe cabia nas palavras,
mas só nos gestos,
na levitação dos passos
perdidos dos ecos ...
E certa tarde com uma lâmpada de sombra
pegou na poesia
e levou-a para um subterrâneo de luz
até ao silêncio
escavado nos gritos.
Nesse tempo,
para não quebrarmos o cristal de vivermos por fora,
já não juntávamos as noites na mesma mesa.
Sorríamos apenas,
cada qual do longe da sua ilha :
- Olá ! Como estás ? -
E ficávamos a sonhar
- simulacro de solidão,
angústias e distâncias.
Hoje não.
Hoje se ainda vivesses por fora
esta nossa morte de todos os dias,
iria sentar-me à tua sombra
para explorarmos juntos o silêncio.
E mostrar-te as bandeiras do frio molhado
que trago nos olhos.
Depois sairíamos ambos para o sabor das trevas
onde as formas se devoram
por dentro do sussurro
das ruas mortas.

2 comentários:

ev disse...

Me gustó mucho este poema gris. Lo he leído muchas veces. Pensé en esa sombra distinta como la de un árbol que nos resguarda de un intenso día soleado. Un alivio de sombra donde se descansa. Bonito
Beso Corsário...
EVa

CorsáriO disse...

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EVa,

Sí, cierto. Es muy agradable sentir el placer de una sombra donde se descansa.
Tu sabes! También hay otros matices que no son agradables. "Sombras" que nos impide ver el sol y son una verdadera pesadilla. Afortunadamente, hay sol todos los días!

Beso EVa.
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