04 fevereiro 2011

Buracos

Aquele quarto
foi a última ilha achada pelo português
onde mal cheguei a nado
(«a nada» diriam os poetas de hoje)
iniciei a exploração
das minas menos secretas
da solidão.
De vez em quando
escavava um buraco no chão
descia à rua
trazia de lá um bocado de neve,
misturava-a com terra e céu,
acendia-lhe um perfil qualquer
de seda, morte e mulher
- assim passava as noites
com frieza de cio
a fingir de Prometeu.

A sós
com o abutre de garras de frio
que se devorava a si mesmo
nas entranhas de todos nós.

1 comentário:

Lyn disse...

Waoo! que delicia leerte de nuevo Corsário. Siempre poesía exquisita, melancólica, bonita.
Un beso de los míos.
EVa