Não, não deixes apagar o destino
que ajudaste a acender
nos nossos corações
atravessados pelo mesmo rio.
Dá-lhe o sopro do sonho,
a lenha dos dedos,
o polén dos lábios,
as abelhas devoradas pelo mel.
Dá-lhe as chamas que fazem ninho
por dentro dos frutos,
a cal das unhas cãndidas
que despem os mortos,
os seios suados da treva,
os dentes de rasgar árvores.
Dá-lhe o mundo oco da caveira,
os tambores da fome,
as carícias da seda inquieta,
o frio arrancado dos punhais,
a morte - jeito de mais luz.
Dá-lhe o terror,
o copo de veneno à cabeceira,
o hálito dos abismos,
os túmulos arranhados,
as mãos de vidro na testa,
os lábios que sabem ao suicídio dos anjos.
Dá-lhe tudo, tudo, tudo, tudo ...
... à bela fogueira do destino
onde te lançaste viva
e eu continuo a arder
em labaredas de cinzas.