12 janeiro 2011

Ninfas


Tanto se foram, Ninfa, costumando
Meus olhos a chorar tua dureza,
Que vão passando já por natureza
O que por acidente iam passando.

No que ao sono se deve estou velando,
E venho a velar só minha tristeza;
O choro não abranda esta aspereza,
E meus olhos estão sempre chorando.

Assim, de dor em dor, de mágoa em mágoa,
Consumindo-se vão inutilmente,
E esta vida também vão consumindo.

Sobre o fogo de amor inútil água !
Pois eu em choro estou continuamente,
E do que vou chorando te vais rindo,

Assim nova corrente
Levas de choro em foro;
Porque de ver-te rir, de novo choro.
*(Camões)
(Imagens: O mar nas "minhas"dunas)

06 janeiro 2011

Ay Dios ...

 Ay Dios, si yo cegara antes que os viera,
O quando os vi d'espacio os contemplara,
Y pues no os contemplé, no os deseara,
O ya que os desee que os mereciera.

Y pues no os mereci nunca naciera,
 O al punto que naci logo espirara
y pues que no espire, que no esperara
Mi corazón a cosa que no espera.

Si espero algún remedio es de la muerte,
Muerte sola podrá darme la vida,
La vida para mi dura y pesada.

Pesada carga trabajosa y fuerte,
Fuerte tránsito de una alma despedida,
Despedida de verse remediada.
 *Camões