Não sei se esta tristeza é minha
ou é do mundo.
Vem do mundo, talvez,
maquinação de cadáveres
a simularem vida,
entranhas da treva
que tudo adormece
nos perfis fechados.
Vem do mundo, talvez.
Os homens tiram-na dos olhos,
encontram-na suada nas camas,
sentem-na ranger nos ventres das mulheres
e, ao compasso do amor resignado,
enrolam-na em si mesmos
pelas avenidas longas
onde os senhores mostram as caveiras
quando tiram os chapéus aos enterros.
Vem do mundo, talvez,
tristeza de pedras
que dormem juntas há séculos
sem um momento líquido de amor
nem o peso de se desfazerem em sombras
que o silêncio exala.
Extensão de cardos
onde de súbito me apetece voar
com a violência de uma bala.