27 março 2013

Insónia




A noite adormeceu.

E a morte cansada
vestiu-se de vento
para desfolhar as flores
na insónia dos jardins
da tempestade.

Ah ! canta, canta toda a noite,
alma dos vendavais.

Ajuda a adormecer os homens
na amargura das tocas
e dos covais.

Os homens que te esperam, nua e gelada,
nas manhãs lívidas de metralhadoras,
quando o sol se levanta ao longe
num esforço de cabeça de cadáver
a ressuscitar em vão ...
nas lágrimas das ervas e dos mortos
sem ressurreição.





13 março 2013

Pólen






Uma nuvem pequenina
saiu-te dos olhos
e pairou por momentos
no ruído azul
do sol velado ...

Depois tornou-se na ninfa de despenteio ao vento
e vai agora pelos campos
com cabelos de poeira
e túnica molhada de flores amarelas,
lá por onde passa a minha solidão
a fingir de primavera
nos caminhos dos pés voados
por dentro do pólen ...






12 março 2013

Agonia







Mistério evidente com tantãs
e o breve sopro
que deixa na cara
o lençol da agonia ...

Mas eu prefiro o outro,
o mistério difícil
em que ninguém repara
das rosas cansadas do dia a dia.







04 março 2013

Astral






Rasgar de portas nos subterrâneos da angústia
donde sai uma mulher de arame
e sexo de vidro
para o colóquio de raspar unhas
no espanto partido.

Adultério astral .