25 outubro 2011

Ira



As aras ainda cheiram a lágrimas assassinas
 no cutelo do sacrifício

Os cordeiros somos nós
 que com sangue de cristal
morremos por nós mesmos.

E não por ti , morto
que ninguém vingará.
Porque não ensinaremos as flores a matar fantasmas,
nem o vento a estrangular os corvos.

A vingança
é uma palavra de desesperança
e solidão
no dicionário impuro
do terror.

E ninguém te vingará no futuro.

A nossa vingança
é a ira do amor.

A ira do amor !

A ira dos homens 
que um dia rasgarão a terra
bocas de sangue
com dentes de cardos
e granizo
contra esse Deus inventado
que começou pelo fim,
...pelo paraíso.


19 outubro 2011

Labirinto



Entretanto, fora de mim em mim, 
construtor de pedras transparentes
terminei o meu labirinto
de verdade impura,
onde ainda hoje me sonho e minto
em enlaces de conjura.

A luz era tanta
que me perdi
em busca da treva que me guiasse
o que havia de mim em ti
- espelho da verdadeira face
aquém de mim mesmo
excesso de alguém que não me sonhasse.

A treva era tanta que me iluminava
com lâminas de punhais
onde resplandecia o jardim
de flores doentes
na cidade da raiva
sempre mais além
perto do cais 
dos navios desistentes.

Labirinto
de máscaras que já nem sinto,
onde me perdi de ninguém
sem encontrar a saída
de fora para dentro.


13 outubro 2011

Labirinto




Saudades 
 de ler jornais
 e das pequenas aventuras
 das grandes cidades
 onde nunca faltaram portais
 para labirintos de escadas impuras.

Mas aqui só me entendem por gestos e sinais.

Se seguisse 
certos passos de mulheres
guiado apenas pela bússola do coração
e olhos de sol em excesso,
teria de desfolhar malmequeres
para marcar no chão
o meu regresso.



06 outubro 2011

Sentidos


Conheço-lhe a cor, só lhe falta a seda
para  ser bandeira completa
 e saciar-me a sede
em linha recta.

Não vou morrer talvez, mas sentir apenas a certeza
de alguém que por mim vela
para além da beleza
do recorte
do sabor a estrela
e do medo de me desejar a morte.