30 novembro 2010

Faces


Chuva na cara,
lágrimas ilúcidas,
bandeiras cómodas do remorso.

As outras, as minhas, não são para chorar,
mas para doer.

Pedras do peso de água.
Duras.
De caveira.
Magoam a luz.
Metal por dentro.
Frio queimado.

Estas não.

Lavam as faces perdidas nos espelhos.
Choram-nas os mortos doidos no vento ...

Água térrea de homens vivos nas nuvens.

(Imagens: Praia da Oura)

17 novembro 2010

Encruzilhada


Ó dor que a carne gera
este metal de agonia,
pega na minha alma e tempera-a,
a branda espada de cera,
para a morte de algum dia.

Não a que desce à cratera, 
luz ao longe por guia,
e  onde um anjo nos espera
na encruzilhada macia ...

... mas a morte exígua e oca
em que o único heroísmo
é, neste gritar sem boca,
saber que não há abismo.

02 novembro 2010

Chuva

Na noite a chuva
espreita livre
pela janela chorada.

Ó chuva,
minha amante de suor nu
e cabelos compridos,
cinge-te mais ao espanto do meu corpo.

Saí contigo
para cansar a noite.

Noite,
vela de sombra a derreter-se
na lividez
da manhã de treva clara.