29 outubro 2010

Ímpetos

Na nossa ilha
rodeada de mar de ouvidos
acendemos com palavras naufragadas
as últimas fogueiras
que já não aquecem
os homens que vemos passar através dos vidros.

Nós, ao menos, ainda trazemos nos olhos
ímpetos de mulheres nuas embrulhadas em segredos de bandeiras.

25 outubro 2010

O fio

Ilusão
de que as cinco agulhas do silêncio
cosiam na boca o esgar
dum grito que afinal começa sempre na mão
e só existe quando o acabamos de gritar.

A propósito do grito.

Sinto que perdi
o fio
que me ligava a ti.
Magia do desejo fundo
em que já não acredito.

Força sem mão
que mandava por mim no mundo
com dedos de divindade.

Agora em vão
carrego no gatilho.

Nunca ouço disparar a tempestade.

17 outubro 2010

Pensamentos

Aqueles claros olhos que chorando
Ficavam, quando deles me partia,
Agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estão em mim cuidando?

Se terão na memória, como eu quando
Deles me vim tão longe de alegria ?
Ou se estarão aquele alegre dia
Que torne a vê-los, na alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se fararão com as aves e com os ventos?

Oh! bem-aventurados os fingimentos,
Que nesta ausência tão doces enganos
Sabeis fazer aos tristes pensamentos !
(*) Camões

09 outubro 2010

Vazio

Maquinações de bocas tortas
empalhadas em sol passageiro.

Palavras mortas
sem sabor nem cheiro...

Sons em que não existem portas.