26 agosto 2009

Peso do pensamento.

Passo com ostentação de me sentir ileso de infortúnios e tormentos. Felizmente ainda não existe nenhuma invenção que fotografe o peso dos pensamentos. Nem que veja os subterrâneos da inveja. E no entanto juro que me mantenho puro. Talvez apenas com aquela pureza suja que torna mais negro o amor da coruja.

18 agosto 2009

Sonhos.

O barco partiu
manhã cedo
em burburinho
que transformava o silêncio
em sol de frio.
Primeiro os mantimentos.
Pão, água, carne, fruta,
sumos e gomos.
Todos os três, capitães.
Eles dos ventos.
Eu dos rumos dos mais altos cimos
dos sonhos.
Só então partimos.
Não em busca de ouro,
metal de água assassina.
Mas de outro menos vil.
O do sol que faz o céu em areal
irreal.
Vamos à bolina
pelo rio barrento.
Pesquisa subtil
do sim oblíquo,
do não brutal
do outro lado do vento.

07 agosto 2009

Irreal.

Só sinto a presença do mundo
quando se ilumina e gela nos teus olhos,
a carne mágica dos teus olhos,
bem diferente da outra,
a nua do corpo
tão vil e irreal quando estamos sós
nesta ácida verdade de existir
- para sermos nós.

06 agosto 2009

Verdade.

Rasguei as nuvens com as mãos
para estrangular a VERDADE
que dormia nas estrelas
com a cabeça recostada na lua...
Estrangulei-a !
E depois fiquei a olhar com espanto
para as minhas mãos trémulas de ser humano.