31 julho 2009

Dunas.

Caminho pelas dunas...
Mas hoje não vou sozinho
como de costume.
Porque a meu lado,
no enfeite
duma túnica cor de vinho
e cabelos de lume,
vai uma deusa que só eu vejo...
... Uma deusa de pés nus
que deixou no ar
pegadas de luz
quando desceu a escadaria
que há no luar...
E agora vai a meu lado...
Por dentro do meu olhar.
Obrigado, mistério, obrigado
pela companhia.
E por teres descido às dunas.

30 julho 2009

Noites.

Todas as noites procuro no céu
o meu mundo verdadeiro ...
- planeta de carne e lágrimas
onde as fontes pensam,
as árvores gritam,
as pedras sangram
e o vento fala a nossa língua
que as flores da terra não entendem
no enleio do cio dos insectos ...
Um mundo com outra paisagem
tão diferente desta natureza
de ninfa de céu azul
que, todas as manhãs,
vem, com as suas malícias de mulher,
algemar de flores as minhas mãos
que querem combater.

27 julho 2009

Gestos.

A graça do teu gesto
foi uma flor que se inventou
e caiu na sombra
dum soluço a boiar ...
Dêem-me uma lima
para cortar a algemas da angústia
que me doi na alma de não ser livre!
Deixem-me seguir os caminhos da noite
no rasto das flores caídas das mulheres que passam
a fabricar luar com os corpos!
Deixem-me matar a sede
nos jardins interditos!

24 julho 2009

Melodia.

Há quantos anos de raiva
que te busco em vão,
Melodia !
No sopro dos meus versos,
nas fontes com sede,
nas portas que rangem,
na cólera do mar aberto ...
Mas quem te ouve, Melodia,
para além do contorno do silêncio?
Pobre voz que trago em mim
e há-de morrer ignorada
nas trevas dum sol profundo
sem luas na superfície.

22 julho 2009

Ondas.

Navego nas ondas
com uma nereida ao pescoço
a segredar-me de frio
na espuma da voz do mar:
Esquece, esquece o desânimo do mundo
no sopro da minha pele
onde adormecem tufões
nas algas de polvo e enleio.
Dá-me os teus pulsos
para algemá-los de frio.
Dá-me o teu coração
para pesá-lo no refúgio.
Dá-me as tuas lágrimas
para a sede dos espelhos.
Dá-me a tua boca
para a fazer sorrir com enfeites.
Dá-me os teus cabelos
para afagá-los de mãos iluminadas.
Dá-me os teus olhos
para pintá-los de violino.
Dá-me o teu peito
para espreguiçar-me nos teus braços.
Dá-me ...
Basta, nereida verde
de corpo de espuma frio
todo em ondas de embalar!
Sou firme como o NÃO dum homem
e não há ninguém no mundo
que me arranque com cetins
ou garras de fazer sangrar o sol
este remorso militante
que tenho na pele e nos gritos...
a minha arma inútil de combate!

21 julho 2009

Paisagem.

Ah! esta paisagem! Esta paisagem!
Cheira a princípio do mundo.
Um mundo de seiva
que não foi criado com lágrimas
nem soluços de deuses,
mas com espadas de fogo
fundas como terramotos
a fenderem o pasmo dos vulcões.
E queres tu criar não sei o quê
com o espírito que paira
nas lágrimas dos pobres...
Poeta : incendeia a espada !

20 julho 2009

Neblina.

Rasguei o céu de lés a lés
com unhas de súplica erguida...
... mas só vi os astros ocos.
Chamei pelos anjos.
Lancei-lhes escadarias em melodia.
Pedi-lhes num murmúrio de incenso,
que baixassem à terra
para combater os dragões
no dorso das trovoadas
com patas de vento...
... mas os anjos só existem na imaginação da neblina.
E andamos nós, há tantos séculos,
a iludir a nossa solidão
com vozes de estrelas.
Tudo inútil, terra.
Tens de lutar sozinha.

16 julho 2009

Terra.

Oh! com que sol e fúria
esmaguei essa flor
que ocupava o espaço do meu pé
agora firme, desenhado na terra,
orgulhoso da solidão dos homens.
A beleza acabou provisoriamente
e os homens nocturnos
começaram a tombar
no estertor dos valados.
Por isso, mundo, proíbo-te
que rebentes com flores
os olhos dos nossos mortos!
Sê apenas chão
áspero e duro
com valas de combate.
Apens terra
negra e desflorida
para o rasto dos pés dos homens.
Apenas terra
árida e seca
sem a moleza das nuvens...

15 julho 2009

Repouso.

Homens mecânicos do mundo:
dormi, dormi,
contentes na terra
em camas de mofo,
felizes da vida.
Dormi, dormi ...
Enquanto eu por cá ando
alheio a destinos
às três da manhã
- nesta insónia de pertencer a um universo
onde só ouço bater o meu coração nas pedras.
O meu coração de carne sem rumor de deuses,
tão pequeno afinal para tantas flores
e tanto mundo.

13 julho 2009

Tempestade.

É tudo tão pequeno esta manhã.
As aves acordaram surpreendidas,
a voarem nos meus olhos
curvas fatigadas
de primavera morta.
As mãos caem-me secas
ao londo do corpo
em folhas recortadas
de árvore de solidão.
As raízes sugam-me nas veias
o sangue da terra
nas manhãs de sussurro.
Sim. Hoje só eu existo.
Eu com este remorso de gota de água
que se recusa a cair no mar
- para se sentir maior
longe da cólera comum da tempestade.

10 julho 2009

Desastre !!!

Enquanto procedia a algumas alterações no PICASA, por lapso perdi alguns álbuns. Entre eles estavam aqueles que guardam automáticamente as imagens que colocamos nos blogs.
Qual o resultado ?! Blogs totalmente danificados pelo desaparecimento de todas as imagens.
Vou recuperar parcialmente este blog. Modificar outro com estilo semelhante, encerrando o outro. Para a reconstrução, irão ser temporária e parcialmente encerrados.
Também já estão um pouco velhos ! Normalmente eu dou aos meus blogs apenas um ano de vida. Tenho em esquema, uma nova página WEB.
Saudações para todos.
(P. S.)
Aaaah ... Se quizerem fazer comentários "maldosos" podem utilizar o meu endereço Gmail !

06 julho 2009

Bosque.

Não, não são as folhas que caem
mas alguém que me persegue
no silêncio da tarde
com passos de seda ...
Alguém que se esconde atrás das árvores
quando me volto de repente
e vejo apenas o rasto
dos ramos ao vento ...
Alguém que se deita no solo
a fingir de sombra
para se esconder dos meus olhos
na preguiça dos contornos.
Alguém que não é ruido, nem luz,
nem treva pintada no chão,
nem alma, nem homem, nem mulher,
nem deus, nem folhas secas ...
Alguém que eu criei para lhe gritar
que não existe! E não! E não! ...
... nos meus bosques de ecos
sem anjos nos passos ...

02 julho 2009

Primavera.

Revolução das flores ?
Sim.
Mas não apenas para disfarçarmos
com bandeiras de cravos
o pólen de África dos nossos lutos.
Queremos flores
que já tragam no ventre
o sabor dos frutos.