28 junho 2009

Memória.

Toda a gente me inveja
porque ando contigo nos braços...
Tu que pareces um perfume desenhado de mulher
vestida de pólen
e dois olhos que são dois instrumentos modernos
a auxiliarem a melodia da tranquililade...
Tu que rodopias, leve,
no desdobrar de seda
que paira neste vento de música
que só as pétalas entendem...
Tu que ...
Ah ! tu que me pesas nos braços
como se trouxesses um esqueleto de lágrimas
e uma bola de metal no coração
ferrugenta do meu remorso.

25 junho 2009

Abismo.

Um dia virás,
hora doce e calma
sem as espadas dolorosas
que me sangram a alma
quando cismo ...
Eu que até nas rosas
procuro um abismo.

Tempestade.

Ó fabricantes de nuvens
que andais pelos caminhos
a atirar fantasmas para a lua
e a falar sozinhos.
Também eu, também, como vocês,
caio de chão em chão,
neste estremecer
de boiar na realidade ...
- Mas com a ilusão
de que fabrico nuvens de tempestade.

21 junho 2009

Patamar.

Em frente, uma escada com vários lances.
O primeiro, fácil de subi-lo
desde os degraus da sombra aos de cristal
intranquilo.
Depois,
o patamar do pesadelo
onde começa o mais difícil: ter coragem
de descê-lo até ao fundo dos espelhos
onde os homens escondem o sangue
da sua verdadeira imagem.

09 junho 2009

Sonho.

No sono do passado
ainda hoje está a boiar o teu
sorriso
- menina das tranças azuis.
Ai, menina das tranças azuis !
- feições caídas no tempo,
sol com boca,
momento gelado no sono...
Mas tão real
que continua a ser sonho.

02 junho 2009

Fraterno.

Fraternidade
de débeis sentimentos inexactos,
cada qual com a sua verdade,
que só a imaginamos
para destruir
o sonho injusto dos factos.
mas não me digam que vai continuar
a desistência,
este eterno repetir da mesma coisa,
este terror medíocre de sentirmos debaixo dos pés
a impossível ponte
que nunca poisa,
nem nunca poisará
em nenhum horizonte.